domingo, 31 de maio de 2009

FERNANDO MARTINS NA FEIRA DE ANTIGUIDADES E DESIGN DO MuBE - TV ARTPONTO

FERNANDO MARTINS Fernando.paqueta@hotmail.com

Estava eu peregrinando displicentemente pela Feira de Antiguidades – MuBE, quando não mais que de repente me deparei com uma escultura, nada comum, aos olhos de quem já está habituado a ver e entender de obras de arte. Aproximei-me a dita peça e sem nenhuma demora o expositor interfere no meu “fazer nada”; bela peça! Fez questão de me chamar para um diálogo sobre a mesma. Deve ter pensado que possivelmente eu a compraria.
Pela simpatia do antiquário aproximei-me mais e desferi a queima-roupa o meu comentário, não muito inédito a aquela altura dos acontecimentos, é bela peça, mas quem a compôs? Nós não sabemos, disse-me o outro antiquário que estava junto ocupando o mesmo stand. Não tem assinatura. Afirmou-me. Não olhei duas vezes até que imediatamente na mesma perspectiva em que estava vi não muito claramente texturas que só poderiam representar a assinatura do autor. Eu apontei a afirmei que a obra estava identificada. Imaginei que um trabalho como aquele só poderia ter sido executado por alguém realmente experiente. Vou até mais longe, pensei logo em Marino Marine, o escultor italiano. Todos nós entendemos que realmente era uma assinatura, mas não conseguimos identificar de quem.
O verdadeiro motivo de eu estar andando pela Feira era tentar encontrar alguém para poder entrevistar, é minha função, a Marleni sabe disso.
Fernando nem vacilou, de imediato se dispôs. Bom rapaz!
Ele me falou que frequentava leilões de artes com seus pais desde criança, eles eram conhecedores e sabiam apreciar boas peças, principalmente arte barroca, minha mãe é expert em arte sacra. Eu fui sempre junto acompanhando e aprendendo um pouco. Pelo menos a gostar, não foi difícil.
Minha mãe era professora e viajava muito com meu pai e não perdiam a oportunidade de estarem sempre em contato com a arte, então escolhiam lugares como o circuito mineiro das cidades históricas como São João Del Rei, Tiradentes, Ouro Preto, Mariana, etc. Repetiram isso várias vezes.
Eu naturalmente fui convivendo com suas histórias. Lembro-me que vi meu pai comprando seu primeiro quadro, foi do autor Armando Viana, era uma paisagem de Parati. Ele teve que trabalhar bastante para pagar, nós tínhamos alguns limites.
Minha avó também gostava muito de artes e era ligada nisso, tinha muito requinte e bom gosto, ela frequentava e comprava móveis da Laubin Laubish Hirts, eram de uma família e fabricavam os melhores móveis do Rio de Janeiro, eu sei que até Joaquim Tenreiro trabalhou em suas oficinas, no principio do século XX. Minha avó era da teoria “do pouco, mas do melhor”. Não era rica trabalhava bastante e se comprava algo, tinha de ser de excelente qualidade.
Fernando entusiasma-se e vai narrando coisas sobre sua avó: Era uma grande cozinheira, sabe? Aliás, eu aprendi com ela um pouco dessa arte. Era um show e não era só o trivial não!
Eu brinquei com o Fernando dizendo que o entrevistador iria ser convidado para um desses almoços na casa do entrevistado.
Era menino ainda quando comprei minha primeira peça, tinha 16 anos. Não parei mais, comprava tudo variado uma mobília, um quadro... A principio o que era mais barato.
Naquela época, trinta anos atrás o mercado de antiguidades no Rio estava fervendo, grandes obras, grandes colecionadores, grandes artistas e grandes antiquários. Tudo se via nos extraordinários leilões. Os tempos eram propícios. O carioca era muito culto. Lá estava instalada a Academia Imperial de Belas Artes que muito os influenciou. A capital do Brasil por muito tempo levou para lá, professores, estudiosos, intelectuais, pesquisadores e apreciadores das artes e da cultura. Tinha lá as maiores e melhores livrarias do Brasil. Foi lá que emergiu a Faculdade de Arquitetura com seus grandes mestres e que muitos vieram da Escola de Belas Artes, mesmo tendo uma linha afrancesada gerou um dos maiores arquitetos que o mundo já conheceu Oscar Niemayer.
Mas com a inauguração de Brasília começou um esvaziamento do Rio de Janeiro depois, bem posteriormente também com a fusão; muitas dificuldades foram aparecendo. Enfim a cultura está onde está também o dinheiro. É verdade que muitos grandes artistas têm berço no Rio, como Beatriz Milhazes, Adriana Varejão, Cildo Meireles e Tunga que juntos de outros, são artistas prestigiados em todo o mundo alguns estão ainda no auge de sua atuação e instalados no Rio. Mas tudo isso diminuiu muito apesar dos colecionadores cariocas ainda estarem comprando bem. É verdade que parte deles veio para São Paulo, observa o Fernando.
Eu percebi um pouco de desanimo em meu entrevistado, mas não conseguiu me esconder o orgulho de ser carioca.
Em uma determinada época dei rumos a minha vida que me surpreenderam, virei funcionário publico, fui fazer música, lancei livros de poesia, tudo paralelamente.
Foi quando veio o plano de demissão voluntária, em 1996, foi assim que eu tentei o ramo de confecções femininas com um sócio, não deu certo e acabei na falência.
Minha mãe sugeriu então que vendesse tudo que estava guardado em uma sala que mantinha só para guardar coisas que não utilizava nunca: faqueiros que ganhou no casamento, móveis, muitos itens de colecionismo e peças de antiguidades. Eu a ajudaria a limpar a sala e ao mesmo tempo faria algum dinheiro. A principio eu visitei muitos antiquários e alguma coisa eu fui dispondo, ao mesmo tempo em que comprava, não demorou nada e percebi que tinha piorado as coisas. Acabei comprando mais do que vendendo.
Meu entrevistado realmente fui dominado pelo vírus dos antiquários, ele me garante que depois destes últimos treze anos trabalhando no ramo, dificilmente deixará de ser mais um deles. Hoje é o primeiro domingo que venho ao MuBE. Vou continuar me afirma sorrindo, aqui as pessoas se interessam e perguntam, não tem monotonia.
Quero lembrar também que na época em que era funcionário publico eu atuei como astrólogo e faço até hoje. Eu estudei muito alem de ter feito vários cursos sobre essa ciência. Em São Paulo estudei com o mestre Valdenir Benetti, Zeferino Pinacostas, Vânio Opitz, por exemplo. Trabalhei profissionalmente dando consultas e escrevendo sobre o assunto. Hoje eu ainda dou consultas, mas só para algumas pessoas mais próximas, perdi o interesse, deixei a astrologia depois de estudar quinze anos, hoje, apenas eu conheço bem a assunto.
Como entrevistador bem acomodado no assunto, sem muito pudor, perguntei ao Fernando, com sua visão de astrólogo, que teria de previsão para a FEIRA DE ANTIGUIDADES – MuBE?
A resposta foi imediata: aqui é um lugar para as estrelas e eu quero ser uma delas, com certeza. O próprio mapa pode ser desenhado pelas vias que nos trazem ao MuBE. Pessoas bonitas, de bom gosto que realmente entendem de antiguidades e vem aqui nos visitar.
Perguntei ao ilustre antiquário se ele tinha alguma especialidade ou se era expert em alguma área de nosso ramo.
Minha maior experiência é com a arte oriental, estudei muito esse assunto. Não me envolvi com a arte chinesa por ser muito vasta, são cinco mil anos de história. É tudo muito lindo, mas muito particular. A arte chinesa é um universo a parte.
Agora sobre a Ásia central, como Himalaia, Nepal, Tibet, Índia, Afeganistão, Birmânia, hoje Miamar, Japão e Indonésia. Toda essa parte do sudeste asiático, eu fiquei especialista. Sou completamente comprometido com minha clientela, eu sei tudo sobre as peças que ofereço: de onde veio, por que e por quem foi feita, que material usou, época e seu grau de raridade.
Tive um Buda da civilização de Gandhara de dois mil anos ou pouco menos, que acabei vendendo ao um colecionador particular, a mais ou menos um ano e meio atrás lá mesmo no Rio de Janeiro.
Eu fui chamado por uma família de um ex-diplomata que atuou no Paquistão e lá mesmo recebeu a peça de presente do governante do país, quando veio de volta, trouxe a peça para o Brasil. Algum tempo depois de sua morte a família resolveu encaminhá-la a outra coleção. Eu adquiri três peças e uma delas esta aqui em exposição sobre o stand.
Essas peças foram confeccionadas pelos artistas da chamada Escola de Gandhara, que consisti na união da tradição oral budista com materialização e a imagem, do ocidente.
Até o final do século I não havia nada figurativado ou iconografado sobre essa religião.
Essa região situada entre os três países Índia, Paquistão e Afeganistão, dado a sua alta militarização, desenvolveu um pólo comercial e cultural. Estava na rota dos mercadores de seda e eles traziam o budismo por todo o caminho do oriente deixando o lugar como centro irradiador da religião. Assim vieram juntar-se a isso tudo os mestres e artífices italianos, macedônios, gregos e sua cultura helênica. Tudo foi se misturando muito bem até que ali mesmo surgiu a imagem materializada de Buda.
Olha bem, caro leitor, o Fernando vai, na medida do desenrolar desta nossa entrevista, detalhando o assunto, que acaba por nos fazer acreditar, por sua segurança nas afirmações, que realmente conhece a história e o ramo em atua como expert. Ele transformou minha simples entrevista em uma verdadeira aula; que eu nem paguei, a não ser com minhas perguntas e meu interesse, que ora transfiro a você.
Ele, o Fernando Martins reiterou sua admiração pelo publico antiquário de São Paulo, são pessoas que se interessam, perguntam sobre as peças. Nota-se o interesse do paulistano pelo que é bom e autentico.
Minha proposta é estar aqui na feira e compartilhar conhecimento, daí meu carinho em informar o meu consulente com o maior e mais detalhado número de informações possível. Hoje o caminho a ser seguido pelo antiquário, sem dúvida tem que ser através desta feira.
Se não houvesse a feira, a arte e antiguidade ficariam restritas a apenas uma camada e não se popularizaria nunca, deixando todos sujeitos a apenas a cultura do plástico multiplicado aos milhares em cópias caras, que se fingem de pechinchas, injetadas pelas máquinas acéfalas das fábricas do consumo.
Ainda jogam-se fora muitas peças de valor e importantes no lixo, às vezes geniais e que deixam de existir por simples desleixo cultural.
Precisamos dosar tudo isso, é a função do antiquário informar e lutar para se preservar o que tem valor. 

Líbano Montesanti Calil Atallah

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